quarta-feira, 21 de março de 2012

Poema AULA DE LEITURA


Poema "Aula de leitura"

Ricardo Azevedo 
Escritor e ilustrador paulista nascido em 1949, é autor de mais cem livros para crianças e jovens

A leitura é muito mais
do que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender:
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão; 
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou se é à-toa;
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;
e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
também na cor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens do céu,
vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas
e no som do coração. 
Uma arte que dá medo 
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.

Poema extraído do livro: AZEVEDO, RicardoDezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática,1999.


Veja também o próprio autor declamando o poema...


Mais sobre leitura...

Falando novamente sobre leitura...um assunto super importante e no qual tenho Paixão...leio tudo...frases, propagandas publicitárias...embalagens, livros , poemas, ...tudo que eu vejo ...e hoje encontrei essa postagem na net e resolvi postá-la por esse simples fato: amar tudo que diz respeito à defesa da leitura...Desfrutem...





Significado Social da Leitura

Significado Social da Leitura 
Artigo publicado no jornal O Liberal / PA

Salomão Larêdo é escritor e jornalista

Através da leitura temos a chance de alargar nossos horizontes profissionais, culturais e pessoais, pois a leitura deve desempenhar múltiplas funções sociais.

Podemos dar como exemplo dessas múltiplas funções sociais, a leitura para a fruição, prazer ou deleite, aquisição de conhecimento e informação; leitura para pesquisa/trabalho; leitura para fins religiosos, auto-ajuda e o que acho hoje mais importante é que a leitura é  uma condição básica para  formar sujeitos capacitados de se inserir na sociedade e exercitar sua cidadania, participando crítica e ativamente da construção da história de seu povo, formulando seus próprios critérios para se questionar como sujeito no seu ato de pensar, sentir e atuar, ultrapassando a fronteira da cultura local a partir da abertura a outras proporções culturais.

Pois, o sujeito que lê, sabe, planeja, direciona e faz a sua evolução/revolução, sua ação, sua construção, sua história de homem livre ( ah, a liberdade, bem maior do ser humano) , emancipado, independente de explorações e opressões.

Quem lê sabe que uma biblioteca pública desempenha papel fundamental no acesso ao livro e na disseminação da leitura nas classes menos favorecidas e por isso vai reivindicar mais bibliotecas públicas nos bairros,clubes, embarcações,  nos ônibus e outros locais.

Quem lê  não acredita que o brasileiro não é leitor – o leitor existe  antes mesmo de sua entrada na escola porque sempre esteve exposto à literatura oral - , que somos um povo analfabeto, que não temos bibliotecas ( isso é verdade, porém, devemos explicar porque não as temos na quantidade necessária, etc.) e outros espaços para o livro e para a leitura ; quem lê sabe, que, quando se  fala em crise  da leitura, não se trata de  um problema com a leitura, mas, sobretudo, de um problema econômico da leitura ( é papel dos governos, ampliar o número de bibliotecas públicas, cuidar de seus acervos, aumentando, etc.).

Quem lê, incomoda. E como diz Roger Chartier ( in  a ordem dos livros) ,”... a leitura é, por definição, rebelde e vadia...”

Na condição de leitor, nessa significação social da leitura, passo a ter subsídios para pensar e analisar quem devo eleger para os cargos de governo e representação popular, fiscalizar as ações dos governos, a atuação dos parlamentares, cobrando eficiência no serviço público, exigindo, manifestando, denunciando, reivindicando, indicando caminhos, alternativas, enfim, participando, porque a leitura me deu consciência social, política.

Ler requer certa determinação, vontade, tirar tempo e claro, dá trabalho.

Mas, dá imenso e enorme prazer e aqui, já encerrando, quero inserir a expressão de Clarice Lispector utilizada por Maria Clara Machado em seu  livro “Ilhas no tempo”, de “... uma construção cultural deliciosa, uma aprendizagem do prazer...”

como  na  vida social, também as  coisas se desenvolvem pelo exemplo e curiosidade, penso que podemos encaminhar a leitura por aí, pois entendo que é preferível associar leitura com prazer do que  permanecer na área da dominação e do poder, embora  a leitura  dê  poder, quem lê se torna poderoso pelo conhecimento que adquire.

Volto a repetir,  quem lê, incomoda.

Continuemos, então,   na construção deliciosa que é o aprendizado do prazer ( o texto pode dar prazer, entende Umberto Eco in lector in fabula) , o prazer de ler. Certamente que todos lemos, também, por necessidade e outros motivos.

Tomara que o livro se torne objeto do desejo – a leitura é um gesto afetivo e aciona nossos desejos. E o que está faltando para que  se efetive  a sedução do livro para  sempre entre nós ?